As Crónicas da Atlântida são o resultado da paixão que nutro desde há muito pelo arquipélago dos Açores e pelas suas gentes. Propus-me por isso retratar o quotidiano das nove ilhas, focado nos que delas fazem o seu lar, independentemente da sua origem, idade, profissão ou estrato social. Quis dedicar-lhes o tempo, a atenção e a energia que um projecto fotográfico documental de longa duração como este implica, tendo a falta de pressa como aliada.
Ganhei então balanço e parti para o coração do arquipélago inspirado pelo majestoso Pico, imbuído da mística das fajãs, contagiado pelo espírito cosmopolita e humanista da marina da Horta. Durante os dois anos que se seguiram foram mais de uma dezena as viagens aos Açores, num projecto fotojornalístico que me levou a percorrer cada uma das ilhas – algumas repetidamente – focado sempre nas pessoas, muito mais do que nas paisagens, se bem que omnipresentes, cenário idílico para pequenas grandes histórias pessoais.
Porque sou uma pessoa de mapas e de geografias, estruturei esta jornada visual orientado pelos pontos cardeais: de Leste para Oeste, da maior para a mais pequena. De uns Açores, porque não há absoluto no que toca à diversidade humana. Dos meus Açores, se quisermos. Assumidamente uma perspectiva subjectiva, moldada pelas relações que ao longo das décadas fui entretecendo nestas terras verdejantes, em que busquei mesclar os instantes inesperados com os traços que melhor definem cada uma das ilhas.
O objectivo esteve sempre claro: mostrar uma faceta menos conhecida do arquipélago, retratar as estórias de quem lá vive e como se vive, desmontando pelo caminho alguns mitos. Buscar as gentes, acompanhando o seu dia-a-dia, ora percorrendo aleatoriamente cidades e estradas secundárias, ora seguindo continuadamente os seus passos. Recusando filtros prévios, ainda que consciente das especificidades de cada ilha: do lavrador ao professor, do jovem ao idoso, do nativo ao estrangeiro, do baleeiro ao criativo, do turista ao padre, parando à porta de quem dedicou um pouco do seu tempo à minha objectiva e caneta, de ouvido à escuta e olhar atento. Cada imagem procura contar a história do seu personagem principal (que, por vezes, é o próprio território e a forma como moldou e se deixou moldar à ocupação humana ao longo de 5 séculos). Cada legenda é uma síntese do que senti, com a consciência plena de que a palavra e a fotografia se complementam, na esperança de poder fazer jus a tudo o que testemunhei.
Em 2022 é reeditada, em versão bilingue (Português e Inglês) a obra “Crónicas da Atlântida”. É o culminar deste projeto documental sobre os Açores, um documento físico da jornada percorrida pelo arquipélago, de uma ponta à outra, captando o quotidiano das suas gentes numa jornada visual através das nove ilhas.
Não tive, em momento algum, a veleidade de ser exaustivo. É assumidamente um projecto documental de viagem, uma fotografia em que a oportunidade e o inesperado reinam, mas ao qual estão subjacentes a planificação prévia e a investigação jornalística. Tenho, no fundo, a intenção de mostrar como é viver nos Açores, numa dada janela de tempo. Traduzir em imagens o que pode esperar o viajante que aterrou em qualquer uma das ilhas de mente e coração abertos, disponível para observar, escutar e conversar. Porque esse é um dos grandes tesouros que se esconde “à vista” de todos. O património cultural e humano insular é tremendo – genuíno, real, por vezes cru. Sem máscaras, sem falsas capas, num território em que o enorme potencial turístico não desvirtuou ainda as relações.
O livro está à venda directamente com o autor AQUI pelo email info@antonioluiscampos.com e também na livraria Palavra de Viajante (Lisboa).
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Projecto financiado pela Bolsa de Exploração Nomad + Governo Regional dos Açores