O Mondego num abrir e fechar de asas

Situado na Região Centro de Portugal Continental, o Mondego é o maior rio inteiramente nacional, eixo de uma vasta bacia hidrográfica. Nascendo na Serra da Estrela, num local conhecido como Mondeguinho, a 1425 metros de altitude, vê-se progressivamente engrossado pelos seus principais afluentes: Seia, Dão, Alva, Ceira, Arunca e Pranto, acabando por se espraiar num amplo estuário, junto à cidade cuja toponímia a ele se deve, a Figueira da Foz.

Foi ao longo do seu curso de 234 km que, durante mais de um ano, foram observadas, estudadas e fotografadas centenas de espécies de borboletas, diurnas e nocturnas, num projecto que, dando continuidade a um trabalho iniciado há quase 10 anos, teve como objectivo retratar as formas, as cores, a beleza destes insectos que desde sempre inspiraram artistas e naturalistas.

Por serem óptimos bioindicadores, o seu estudo poderá fornecer importantes informações sobre o estado dos ecossistemas onde habitam, igualmente relevantes também para outras espécies. Da nascente à foz, levou-se a cabo uma viagem pelos habitats criados pelo Mondego, buscando a estética tão própria das borboletas, descobrindo, pelo caminho, pormenores íntimos da sua ecologia, das suas efémeras mas fulgurantes e, indubitavelmente, apaixonantes vidas, procurando explorar as diferentes facetas da sua existência: do nascimento aos predadores, dos ambientes às técnicas de camuflagem, das paisagens aos padrões das suas asas.

 
 


 
 
 

Independentemente da localização, é na Primavera e início do Verão que existe uma maior variedade e quantidade de borboletas em voo, altura em que as plantas entram em floração e a disponibilidade de alimento aumenta exponencialmente. Contudo, algumas espécies têm diferentes ciclos de vida, voando no Outono e mesmo Inverno, com baixas temperaturas, pelo que o trabalho de campo se desenvolveu ao longo das quatro estações. O clima é sem dúvida um dos mais fortes condicionantes biológicos e as alterações climáticas colocam-se hoje como uma ameaça à sobrevivência das espécies mais sensíveis, especialmente na alta montanha.

Pela beleza e atracção que sempre exerceram no Homem, as borboletas são provavelmente o mais conhecido grupo de insectos. A sua origem remonta ao Mesozóico, mas apenas se dá uma explosão na sua diversidade quando surgem as primeiras plantas com flor (angiospérmicas), durante o Cretácico. Cientificamente, as borboletas pertencem à Ordem Lepidoptera e são caracterizadas pela presença de um coberto de escamas (pêlos modificados) que reveste os dois pares de asas como as telhas de um telhado. Sinal do quanto há ainda a investigar, desconhece-se o número de espécies existentes a nível global. Todos os anos são descobertas novas espécies para a ciência (mesmo na Europa).

Estes insectos podem dividir-se em dois grandes grupos funcionais: os ropalóceros (ou borboletas diurnas) e os heteróceros (ou borboletas nocturnas). Os primeiros são borboletas que voam de dia e são também as mais conhecidas, muito embora o seu número seja bastante inferior ao dos heteróceros.

Apesar da sua actividade nocturna, algumas destas espécies também voam durante o dia, apresentando na sua maioria padrões simples e discretos, surpreendendo, algumas delas, pela diversidade de comportamentos, colorido e exotismo de formas.

 
 

 

LIVRO

Após a exposição As Borboletas do Mondego no Museu da Água de Coimbra, foi lançado o desafio de colocar em livro paisagens, ecologia e retratos de muitas das centenas de espécies que existem nas margens do maior rio inteiramente português. Com mais de uma centena de imagens originais e textos informativos mas acessíveis, a publicação segue uma abordagem simultaneamente estética e científica, trazendo ao leitor pormenores do ciclo de vida destes efémeros insectos, numa metamorfose figurativa encetada pela fotografia de António Luís Campos e texto de Pedro Pires.

Sinal da importância ecológica dos ecossistemas do rio Mondego, encontram-se aqui mais de 900 espécies. As mais visíveis, diurnas, incluem alguns dos exemplares mais emblemáticos, pelas suas dimensões e exuberância, mas as verdadeiras jóias entre os lepidópteros são mais subtis, por vezes de cores discretas e passam despercebidas ao olhar menos atento.

Mesclando arte e ciência, Metamorfose é uma viagem de duas centenas e meia de quilómetros, desde o Mondeguinho, a nascente do Mondego na Serra da Estrela, à planura aquosa do estuário, a tocar o Atlântico, o livro condensa em 140 páginas um todo que navega entre a exuberância das borboletas diurnas e a discreta elegância das nocturnas, num caleidoscópio visual de cor e forma.

O livro, com um custo de 15€, pode ser encomendado AQUI