As personagens que habitam ao longo das margens do Beni, na Amazónia boliviana, são pessoas normais que subsistem num dos mais inóspitos recantos do globo. Estas imagens são um testemunho da tenacidade de quem ali vive, realizadas na companhia de três viajantes ligados à agência de viagens-aventura Nomad – Tiago Costa, Eduardo Madeira e Inácio Rozeira – durante uma viagem num pequeno barco, ao longo de 1000km. O objectivo era documentar o quotidiano das populações ribeirinhas, numa região onde não se usa moeda no dia-a-dia, a água potável não existe, em que se vive sem rede eléctrica, com apenas um médico e um polícia e onde telemóveis e internet são uma miragem. Mas, paradoxalmente, vive-se ali numa delicada harmonia social, onde os conflitos são raros e o lixo praticamente inexistente. Este equilíbrio está, no entanto, cada vez mais ameaçado pelas alterações ambientais – poucas semanas após esta reportagem chuvas anormalmente torrenciais desalojaram centenas de pessoas e destruiram todas as colheitas.
Mais do que apenas viajar, o projecto Sobre | Viver teve como objectivo documentar a realidade de comunidades que habitam um território tão superlativo e tão diverso do da Europa. Após o nosso regresso seguiram-se várias iniciativas de comunicação, que passaram por palestras, exposições fotográficas itinerantes e uma página web multimedia.
Mas o culminar deste projecto aconteceu com a publicação do livro homónimo, com textos de Eduardo Madeira e fotos de António Luís Campos, editado pela Nomad. Personagens como Eddy Ocampo, o nosso comandante; o Dr. Ricardo, herói da saúde e único médico em 1000km de rio ou o Alferes Flores, que representava uma lei de difícil implementação e um Estado distante, ganharam nova vida em páginas de papel.
O livro encontra-se à venda através do quiosque Manifesto, espaço ubicado no Mercado de Matosinhos, dedicado às publicações de viagem, fotografia e design, e pode ser adquirido online AQUI
Financiamento: Bolsa de Exploração Nomad
Esta é uma aldeia fundada do nada por Hernan, já perto da foz do Beni, perto da cidade fronteiriça Riberalta, na Amazónia boliviana, junto ao Brasil.
Nascido e criado na região, viajado, emigrou para vários países vizinhos, acumulando fortuna. Voltou anos mais tarde, comprou terrenos na margem, desmatou-os e ergueu a aldeia. Hoje tem ali o seu clã, com 3 núcleos familiares, todos descendentes de Hernan e, depois, do filho mais velho, Hermes. A vida é rotineira, orbitando à volta da subsistência. Mas mesmo com tão poucos habitantes conta com um professor.
Hernan, dono de uma história de vida recheada, orgulha-se das 3 mulheres que teve. As condições de saúde deficitárias deixaram a sua marca nesta comunidade familiar: vários dos seus filhos tiveram problemas graves, nomeadamente deficiência mental profunda e cegueira.